quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Manifesto de um motorista anônimo



Começou mais uma segunda feira. Em meio a tantos afazeres matinais perder a chave do carro se tornou uma rotina. Tenho dúvida se é por acidente ou se meu inconsciente faz isso de propósito para me convencer a deixar a caranga em casa. Não que ele se sinta melhor indo a pé, mas o ato de dirigir tem exigido tanto da mente que até os pensamentos latentes perdem espaços nesse momento de concentração.

Para começar, meu prédio possui mais carros que moradores e uma garagem que só pode ter sido projetada por quem nunca esteve atrás de um volante. É tanta coluna pra lá e pra cá que direção hidráulica nenhuma consegue evitar os arranhões acidentais. Enxergar a rua é ganhar a primeira batalha do dia, pois a guerra está só começando.

Sei que fui para a autoescola aprender a dirigir, mas às vezes tenho a impressão que fui o único a seguir esse caminho. Já no primeiro sinal encontro o famoso nó no trânsito. Será que só pra mim foi dito que não devemos fechar o cruzamento?  Fecha sinal, abre sinal, fecha sinal... já estou 20 minutos atrasado e ainda não andei 10 metros.

Enfim, um guardinha passa e o trânsito pensa em andar... É nessa hora que começo a exercitar o meu instinto de camaleão.  Não vou me surpreender nem um pouco se de repente os meus olhos responderem em direções diferentes um do outro, pois tive que criar a habilidade de olhar para vários lugares ao mesmo tempo.

No primeiro exercício tenho que ver, ouvir e desviar daquele motoqueiro que pegou o corredor achando que estava na highway. Rola uma inveja de ele estar andando e eu não, mas bem que ele poderia se exibir um pouco menos... qualquer 40 km por hora já estaria dando um banho na minha rotina de primeira, segunda e primeira marcha de novo nesse trânsito caótico.

O ciclista que passa atrás, na lateral e na frente do carro é outro caso grave. Perdi metros e metros de ruas para a construção de ciclovias e eles continuam ocupando o meu espaço. Se é para ser assim que pelo menos seja obrigatório seta em bicicletas, pois nada mais irritante que esses veículos entrando e saindo de nossa visão sem nenhum aviso prévio.

Por falar nele, aviso prévio é algo em extinção no trânsito. Depois de uma série de campanhas educativas os pedestres ganharam as ruas. Que eu me lembre elas ensinavam a atravessar na faixa depois de indicar a intenção e esperar o carro parar, mas toda essa mensagem foi traduzida como “pisei na pista o carro tem que brecar”. E o que vejo é um desfile de pessoas que se andam no asfalto como se estivesse exibindo um Valentino no tapete vermelho.

E assim eles vão, se enfiando na frente do meu carro minuto após minuto. Me sinto em um fliperama, onde o grande objetivo do jogo é testar ao limite a capacidade dos meus freios e a grande diversão é “vamos passar na frente do meu carro”. Ganho pontos imaginários e cabelos brancos reais a cada ser que desvio, a cada buraco que não caio e a cada freada brusca que não termina em colisão traseira.

Chegou o final do dia e eu, enfim, vislumbro a entrada do meu prédio. Assim como em um grupo de autoajuda me felicito por ter conseguido novamente. É ao trancar a garagem que repito para mim mesmo o mantra que me faz ter coragem de colocar o carro para fora no dia seguinte: só por hoje meu carro não foi arranhado, meu retrovisor não foi arrancado e a culpa pelos acidentes ocorridos não é minha.

2 comentários:

  1. tá cada vez mais profissa esse blog hein.

    bjs gabi!

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  2. Vindo de um redator profissional e escritor de mão cheia eu até me acho com esse comentário... kkkkkk.

    Valeu Mr. John

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