sábado, 25 de abril de 2015

E sozinha ela vai


É noite e ela está sozinha em casa. Assiste a mais um programa de TV e lê várias páginas daquele livro que tanto adora. Os personagens, na tela ou nas letras, são os amigos que a afastam da solidão que teima em chegar. Ela abre uma rede social no computador só para incentivar o sono e fica impressionada com que vê.

Sua timeline está repleta de demonstração de amizade, mas nenhuma é para ela. Por que isso acontece? O que há de errado com as pessoas? O que há de errado com ela? Nem no seu aniversário surgem tantas demonstrações. No último ano, inclusive, várias pessoas que ela não vê há séculos deixaram os parabéns online, mas na vida real ela comemorou o dia sozinha.

Os colegas de trabalho costumam organizar almoços especiais no dia do aniversário do pessoal e ela sempre esteve por lá. Nunca foi do grupinho super amigo que troca presentes, mas sempre considerou que sua presença era querida, até não ter almoço especial para ela... ninguém se lembrou de marcar, pois afinal ela não é amiga de ninguém.

Não é por falta de tentar, mas parece que ela não veio provida da habilidade de fazer amigos. Se é porque ela fala demais ou de menos não saberia explicar, mas a verdade é que pode enumerar apenas uns três nessa lista. Um feito há décadas e que é daqueles amigos irmãos, que a gente sabe que vai durar para o resto da vida. Os outros ela ama, e muito, mas sabe que nem adianta chamá-los para um happy hour porque nenhum deles vai. Apesar de estarem próximos, eles são mais separados do que os continentes dos lados extremos do Atlântico. São daquelas amizades de momento, assim como as que tínhamos quando éramos adolescentes: vão durar até a próxima amizade chegar.

Talvez o problema seja a sua caraterística sincera. Ela diz o que pensa e tem convicções – que obviamente não agradam a gregos e troianos. Vai ver ela é mal compreendida, ou talvez o que ela acredita ser personalidade seja visto simplesmente como chatice. Ela é entediante e ponto final.

Mesmo assim ela continua tentando e a decepção é cada vez maior quando vê uma grande demonstração de carinho de alguém que ela achou ser sua amiga indo para outra pessoa. Mais uma vez ela virou a amizade do colégio antigo, sendo devidamente trocada pela amizade do colégio novo. Mais uma vez ela guardou no fundo da gaveta dos “melhores amigos que nunca existiram” a esperança de ter conquistado alguém. Ela se abriu, foi verdadeira, foi real e ninguém deu valor.

São duas da manhã e a solidão chegou no lugar do sono.

Um comentário:

  1. Ela sabe que tem uma que é mais que amiga, que a admira, respeita e ama acima de tudo na vida.

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