Começou
mais uma segunda feira. Em meio a tantos afazeres matinais perder a chave do
carro se tornou uma rotina. Tenho dúvida se é por acidente ou se meu
inconsciente faz isso de propósito para me convencer a deixar a caranga em
casa. Não que ele se sinta melhor indo a pé, mas o ato de dirigir tem exigido
tanto da mente que até os pensamentos latentes perdem espaços nesse momento de
concentração.
Para
começar, meu prédio possui mais carros que moradores e uma garagem que só pode
ter sido projetada por quem nunca esteve atrás de um volante. É tanta coluna
pra lá e pra cá que direção hidráulica nenhuma consegue evitar os arranhões
acidentais. Enxergar a rua é ganhar a primeira batalha do dia, pois a guerra
está só começando.
Sei que
fui para a autoescola aprender a dirigir, mas às vezes tenho a impressão que
fui o único a seguir esse caminho. Já no primeiro sinal encontro o famoso nó no
trânsito. Será que só pra mim foi dito que não devemos fechar o cruzamento?
Fecha sinal, abre sinal, fecha sinal... já estou 20 minutos atrasado e
ainda não andei 10 metros.
Enfim, um
guardinha passa e o trânsito pensa em andar... É nessa hora que começo a
exercitar o meu instinto de camaleão. Não vou me surpreender nem um pouco
se de repente os meus olhos responderem em direções diferentes um do outro,
pois tive que criar a habilidade de olhar para vários lugares ao mesmo tempo.
No
primeiro exercício tenho que ver, ouvir e desviar daquele motoqueiro que pegou
o corredor achando que estava na highway. Rola uma inveja de ele estar andando
e eu não, mas bem que ele poderia se exibir um pouco menos... qualquer 40 km
por hora já estaria dando um banho na minha rotina de primeira, segunda e
primeira marcha de novo nesse trânsito caótico.
O
ciclista que passa atrás, na lateral e na frente do carro é outro caso grave.
Perdi metros e metros de ruas para a construção de ciclovias e eles continuam
ocupando o meu espaço. Se é para ser assim que pelo menos seja obrigatório seta
em bicicletas, pois nada mais irritante que esses veículos entrando e saindo de
nossa visão sem nenhum aviso prévio.
Por falar
nele, aviso prévio é algo em extinção no trânsito. Depois de uma série de
campanhas educativas os pedestres ganharam as ruas. Que eu me lembre elas
ensinavam a atravessar na faixa depois de indicar a intenção e esperar o carro
parar, mas toda essa mensagem foi traduzida como “pisei na pista o carro tem
que brecar”. E o que vejo é um desfile de pessoas que se andam no asfalto como
se estivesse exibindo um Valentino no tapete vermelho.
E assim
eles vão, se enfiando na frente do meu carro minuto após minuto. Me sinto em um
fliperama, onde o grande objetivo do jogo é testar ao limite a capacidade dos
meus freios e a grande diversão é “vamos passar na frente do meu carro”. Ganho
pontos imaginários e cabelos brancos reais a cada ser que desvio, a cada buraco
que não caio e a cada freada brusca que não termina em colisão traseira.
Chegou o
final do dia e eu, enfim, vislumbro a entrada do meu prédio. Assim como em um
grupo de autoajuda me felicito por ter conseguido novamente. É ao trancar a
garagem que repito para mim mesmo o mantra que me faz ter coragem de colocar o
carro para fora no dia seguinte: só por hoje meu carro não foi arranhado, meu
retrovisor não foi arrancado e a culpa pelos acidentes ocorridos não é minha.
tá cada vez mais profissa esse blog hein.
ResponderExcluirbjs gabi!
Vindo de um redator profissional e escritor de mão cheia eu até me acho com esse comentário... kkkkkk.
ResponderExcluirValeu Mr. John